Uma Comissão de entortar a cabeça, pode apostar

A CPI das BETs não é uma novidade, foi instalada em novembro do ano passado e deve ser encerrada em 14 de junho próximo, sem perspectiva aparente de apontar o que se passa no rumoroso universo das apostas online e do envolvimento de verdadeiras organizações criminosas entre empresas idôneas que têm direito a funcionar. Pelo menos, nesta terça-feira (13), a presença da influenciadora e apresentadora Virginia Fonseca, na condição de testemunha, deu o verdadeiro ar da tietagem que ronda os corredores, a cada vez que um famoso é convocado.

E não foram poucos, entre eles vários influenciadores, menos a advogada Deolane Bezerra, que escapou de depor para não produzir prova contra si – preceito constitucional. O atual presidente do Banco Central Gabriel Galípolo também já foi ouvido.

Esta comissão pode se orgulhar de fazer pelo menos uma prisão: em sessão no fim de abril, o depoente Daniel Pardim Tavares Lima, que é empresário, compareceu como representante da empresa Peach Blossom River Technology, aliada à Payflow, investigada pela Polícia Civil do Distrito Federal por indícios de lavagem de dinheiro e transferências ilegais. Acabou detido por mentir aos integrantes da Comissão.

Mas há traços quase surreais na CPI, como por exemplo ter ouvido, ao longo dos meses, viciados em apostas online, agentes envolvidos em investigações relacionadas ao tema e especialistas em saúde mental. O objetivo oficial da comissão é investigar “a crescente influência dos jogos virtuais de apostas online no orçamento das famílias brasileiras, além da possível associação com organizações criminosas envolvidas em práticas de lavagem de dinheiro, bem como o uso de influenciadores digitais na promoção e divulgação dessas atividades”, e, caso dê tudo como o previsto, deve ser prorrogada para deleite de senadores que registram com fotos e selfies cada presença estrelada.

A Virginia tem certa razão

O jogo no Brasil não é legalizado, embora, em fevereiro de 2022, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei 442 de 1991, que seguiu para votação no Senado, onde permanece “congelado” desde então. A medida inclui cassinos, bingos, jogo do bicho e jogos online, entre outros, mas por uma permissão especial as Bets estão aí, com toda força semelhante ao que ocorre no cenário internacional.

Bem preparada pelos seus advogados, Virginia Fonseca conseguiu demarcar algumas verdades no depoimento desta terça-feira (13), mesmo quando trocou o canudo da sua garrafa de água “pink” pelo microfone da mesa da CPI. Insistiu que não ganha a cada fracasso de apostadores e bradou “então proíbe tudo” ao garantir que ganhou muito dinheiro com empresas legalizadas.

O tema jogo no Brasil sempre foi envolto por saga de moralidade, inaugurada, em 30 de abril de 1946, com o banimento oficial assinado pelo então presidente Eurico Gaspar Dutra, sob o argumento de que o jogo é degradante para o ser humano, provoca vício, destrói famílias e dilapida patrimônios. Todas as afirmações são reais, mas isso nunca impediu que exista uma jogantina na clandestinidade em qualquer canto, daquelas que nada entrega aos cofres públicos em impostos, enquanto o monopólio da atividade está nas mãos da Caixa Econômica Federal, que causa os mesmos efeitos que moveram Dutra a tomar a atitude.